Delírios

Sentou diante do silêncio e debulhou-se em lágrimas. Pensou no que havia perdido naquele dia, fechou seus olhos em busca de respostas.
Silênciou o suspiro que a seguia depressa. Buscou por sentir apenas, o afago frio e intenso do vento que soprava em seus cabelos. Curvou-se diante da dúvida.
Sem saber ao certo, sobre suas angústias, levantou-se e seguiu em rumo ao desconhecido.
Procurou por auxílio, porém, tudo estava perdido. Sua vida já não estava mais em seu rumo certo, seu destino se perdeu no tempo. Suas limitações ja lhe eram expostas e seu sentir indefinido pela dor.
Em meio a tanto remorso, retornou e deitou-se.
Deixou-se punir pelo desespero. Rolou em lágrimas. E mais uma vez, se fez o silêncio.
Deixou sua alma transpassar as barreiras do infinito, em busca de paz. Mas o que encontrou, foi apenas seu amor em prantos.
Então, sentou ao seu lado e lhe tocou os cabelos, porém já não mais a sentia.
Tudo havia deixado de existir. Seu erro a seguia e a dor que causou também a perseguia.

Sucumbiu a sua existência e retornou ao seu intimo, chorou com a cena que tivera visto, suspirou e silenciou o seu sentir com o sublime beijo da morte.

Mais um dia de trabalho

Ela levantara tensa e ainda desnorteada pelo sono, uma sensação de cansaço. Ao longe, um ronronar suave, eis que surge entre a penumbra seu pequeno felino que sempre simpático, se deixa acariciar por suas mãos. Enquanto o acariciava, lembrava que há muito tempo ninguém lhe dava carinho.
Triste, seguia em direção ao seu banho. Ligara o chuveiro e sentia a água percorrer sua face, deslizando enfim pelo seu corpo, por um instante fechou seus olhos e despertou para mais um dia de luta. Após um sublime despertar seguiu em direção ao seu trabalho.
Durante a viagem, pedia em silêncio para que seu dia fosse bom e que tudo desse certo, pediu paz e serenidade, pediu para que sua angústia lhe deixasse para sempre. Chegando ao seu destino...
Adentrou o seu setor e logo se deparou com a palidez da morte que lhe ofertou um sorriso. Então ela passou pela morte, como um vento que passa pela árvore do quintal, rápida, intensa e fria. Nada sentiu, mas ficou com a certeza de que a morte jamais lhe esquecerá.
Gemidos e gritos soam em seus ouvidos. A dor não encontra barreiras para atingir suas vítimas. Pessoas a todo momento a olham, pedem e até imploram por quietude. Sem saberem que esse era o seu único desejo. Leitos lotados de sofrimento seguiam por um imenso corredor gelado. Lágrimas inundavam de tristeza aquele local.
E lá estava ela, tentando sobreviver em meio a tantos desesperados. Seguia suas longas horas diárias, sentindo-se indiferente a qualquer sentimento. Apenas chorava ao sentir-se derrotada.
Próximo a sua mesa estava um enfermo e ao seu lado surgia ela, imponente e fria, a Morte. De repente sentiu então um calafrio e neste instante, um último suspiro.
Todos correm e tentam resgatar de seus braços aquele ser indefeso, porém desta vez, nada poderá ser feito. Ele se foi juntamente com a esperança de seus familiares e amigos, perdendo-se em meio aquele silêncio mórbido. Eis que agora só resta o nada.
Ela prepara seus restos para encaminhar a decomposição. Neste momento, o silêncio.
Enquanto o prepara, tenta esquecer de que é um ser humano passível de erros, tenta não pensar em nada e sente-se vazia de emoções. Realizando apenas o que lhe fora ensinado. Ouviu os passos da morte se perdendo em um tempo que não voltará mais, um tempo que se perdeu e levou consigo o silêncio mórbido do fracasso.
Kelly Rodrigues. Tecnologia do Blogger.