Mais um dia de trabalho

Ela levantara tensa e ainda desnorteada pelo sono, uma sensação de cansaço. Ao longe, um ronronar suave, eis que surge entre a penumbra seu pequeno felino que sempre simpático, se deixa acariciar por suas mãos. Enquanto o acariciava, lembrava que há muito tempo ninguém lhe dava carinho.
Triste, seguia em direção ao seu banho. Ligara o chuveiro e sentia a água percorrer sua face, deslizando enfim pelo seu corpo, por um instante fechou seus olhos e despertou para mais um dia de luta. Após um sublime despertar seguiu em direção ao seu trabalho.
Durante a viagem, pedia em silêncio para que seu dia fosse bom e que tudo desse certo, pediu paz e serenidade, pediu para que sua angústia lhe deixasse para sempre. Chegando ao seu destino...
Adentrou o seu setor e logo se deparou com a palidez da morte que lhe ofertou um sorriso. Então ela passou pela morte, como um vento que passa pela árvore do quintal, rápida, intensa e fria. Nada sentiu, mas ficou com a certeza de que a morte jamais lhe esquecerá.
Gemidos e gritos soam em seus ouvidos. A dor não encontra barreiras para atingir suas vítimas. Pessoas a todo momento a olham, pedem e até imploram por quietude. Sem saberem que esse era o seu único desejo. Leitos lotados de sofrimento seguiam por um imenso corredor gelado. Lágrimas inundavam de tristeza aquele local.
E lá estava ela, tentando sobreviver em meio a tantos desesperados. Seguia suas longas horas diárias, sentindo-se indiferente a qualquer sentimento. Apenas chorava ao sentir-se derrotada.
Próximo a sua mesa estava um enfermo e ao seu lado surgia ela, imponente e fria, a Morte. De repente sentiu então um calafrio e neste instante, um último suspiro.
Todos correm e tentam resgatar de seus braços aquele ser indefeso, porém desta vez, nada poderá ser feito. Ele se foi juntamente com a esperança de seus familiares e amigos, perdendo-se em meio aquele silêncio mórbido. Eis que agora só resta o nada.
Ela prepara seus restos para encaminhar a decomposição. Neste momento, o silêncio.
Enquanto o prepara, tenta esquecer de que é um ser humano passível de erros, tenta não pensar em nada e sente-se vazia de emoções. Realizando apenas o que lhe fora ensinado. Ouviu os passos da morte se perdendo em um tempo que não voltará mais, um tempo que se perdeu e levou consigo o silêncio mórbido do fracasso.

1 comentários:

Anônimo disse...

...sem palavras...
voce retartouo seu dia de uma forma suave, e detalhada, voce descreveu os sentimentos que sentia de uma forma que eu quando estava a ler paresiam terem saido de dentro de mim...
Eu não costumo ler muito mas me parece que voce tem talento. adorei :D bjx

Kelly Rodrigues. Tecnologia do Blogger.